terça-feira, 31 de julho de 2012

CAIO FERNANDO ABREU



Eu te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa,
não importa o quê, como aquela fé que a gente
teve um dia, me deseja também uma coisa bem
bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me
faça acreditar em tudode novo, que nos faça
acreditar em tudo outra vez.

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 30 de julho de 2012

É O MAR. . .



É o mar que permanece – é sempre o mar
das esperas, que acende
os olhos,
para no exausto coração deitar
o silencio das praias e das ondas
a lassidão; é o mar que permanece
e faz da solidão da criatura
a solidão da água
que a circunda.

Alphonsus de Guimaraens Filho
In: Antologia Poética

domingo, 29 de julho de 2012

ISABEL MEYRELLES



Eu serei água
água verde
parada
opaca
e estagnada
Eu serei água
onde só tu poderás
refletir-se
mais nada

Isabel Meyrelles
In ‘Palavras Noturnas e Outros Poemas’

DEPOIS




Será sempre agora.
Viajarei pelas galáxias
universo afora.

Helena Kolody,
in Viagem no Espelho

ARGILA




Somos argila dorida,
Sangrando em face dos astros,
Na vertente dos abismos.

Helena Kolody,
in Viagem no Espelho

quinta-feira, 26 de julho de 2012

XX



Entre as pedras do meu destino,
tu ficaste como uma flor,
Amor, volúpia, glória e dor
são as pedras do meu destino.

Que será de ti, linda flor?

Onestaldo de Pennafort,
in Poesia

quarta-feira, 25 de julho de 2012

FIO D’ÁGUA


Fio d’água, humilde e brando,
Da transparência dos cristais:
Tão claro e límpido vais
Cantarolando,
Que deixas ver, lá, no fundo,
A areia fina alvejando ...

Tão diáfano! até parece
Que a areia é que vai cantando ...

Verso meu, fio d’água oriundo
Da fonte da dor ... pudesse
(Ai de mim!)
Fazer-te tão claro assim,
que se visse, lá no fundo,
- só – minha alma cantando
ou soluçando ...


Tasso da Silveira
Canções a Curitiba
& outros poemas

terça-feira, 24 de julho de 2012

O PRELÚDIO



E eu senti
Uma presença que me perturba
com a alegria
De elevados pensamentos;
um sentido sublime
De algo mais profundamente entremesclado,
Cuja moradia é a luz dos poentes
E o redondo oceano
e o ar vivo.
E o céu azul,

E na mente do homem:
Um movimento e um espírito
que impelem
Todas as coisas que pensam,
todos os objetos de todo o pensamento,
E que rola através de todas as coisas.

William Wordsworth,
in'O olho Imóvel Pela Força da Harmonia'

VIII




Pela alvorada, os barcos partem – aves
ávidas de ar, de espaço! – sobre o mar.
Ao poente, voltam carregados, graves...
Mais belo que partir é regressar.

Onestaldo de Pennafort,
in Poesia

segunda-feira, 23 de julho de 2012

IDENTIFICAÇÃO



Eu me diluí na alma imprecisa das coisas.
Rolei com a Terra pela órbita do infinito,
Jorrei das nuvens com a torrente das chuvas
E percorri o espaço no sopro do vento;
Marulhei na corrente inquietadora dos rios,
Penetrei a mudez milenária das montanhas;
Desci ao vácuo silencioso dos abismos;
Circulei na seiva das plantas,
Ardi no olhar das feras,
Palpitei nas asas das pombas;
Fui sublime n’alma do homem bom
E desprezível no coração do mesquinho;
Inebriei-me da alegria do venturoso;
E deslizei dolorosamente na lágrima do infeliz.

Nada encontrei mais doloroso,
Mais eloquente,
Mais glorioso
Do que a tragédia cotidiana
Escrita em cada vida humana.

Helena Kolody
in Paisagem Interior

domingo, 22 de julho de 2012

VICENTE DE CARVALHO



Ninguém entenda, embora,
Esse vago clamor, marulho ou versos,
Que sai da tua solidão nas praias,
Que sai da minha solidão na vida...
Que importa? Vibre no ar, acode os ecos
E embale-nos a nós que o murmuramos...
Versos, marulho! Amargos confidentes
Do mesmo sonho que sonhamos ambos!


Vicente de Carvalho
in Poemas e canções

MIGUEL DE UNAMUNO





”Os homens só se sentem verdadeiramente irmãos
quando se ouvem uns aos outros no silêncio das
coisas, através da solidão…

A solidão derrete essa espessa capa de pudor que
isola uns dos outros; só na solidão nos encontramos;
e, ao encontrarmo-nos,encontramos, em nós, todos
os nossos irmãos…

Só na solidão elevamos o nosso coração ao coração
do Universo… Só na solidão podes conhecer-te a ti
mesmo como próximo; enquanto não te conheceres
a ti mesmo como próximo, não poderás chegar a
ver, nos teus próximos, outros ‘eus’.

Se queres aprender amar os outros,
RECOLHE-TE EM TI MESMO”


Miguel de Unamuno

E POR QUE NÓS?



Dentro de todos nós
há uma casa vazia
escura ou clara
translúcida de vida e morte
cheirando memórias de tempo.

Dentro de todos nós
há uma casa vazia . . .

de pranto e de paz e de luz
de risos e de tardes plenas de azul.

Dentro de todos nós
há uma casa vazia . . .

quando os braços da noite
dizem das coisas vividas e
falam com olhos de menino travesso
como se caracóis e caretas de palhaço
enfeitassem nossos desenganos.

Dentre de todos nós
há sempre uma casa vazia . . .

Alvina Nunes Tzovenos,

in Palavras ao Tempo 

sábado, 21 de julho de 2012

CREPÚSCULO



Silencioso
Solitário
Sinistro
Um sol-poente
Celebra o suicídio da tarde.

H.Dobal

In Os Signos e as Siglas

INFINITO SILÊNCIO



Houve
(há)
um enorme silêncio
anterior ao nascimento das estrelas

antes da luz

a matéria da matéria

de onde tudo vem incessante e onde
tudo se apaga
eternamente

esse silêncio
grita sob nossa vida
e de ponta a ponta
a atravessa
estridente

Ferreira Gullar
In Muitas Vozes

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CANÇÃO DA MANHÃ



No esguio minarete do pinheiro,
O sabiá convida para a prece.

Canta a baila a água trêfega das fontes,
Na cristalina infância dos rios.

Fragílima filigranas de teias orvalhadas
tremeluzem ao sol.

Ostenta um lustro novo o verde da folhagem,
comunicando ao velho encanto da paisagem
Um brilho inaugural.

Fulvo oceano de luz em que submerge o mundo!
Riso feliz que assoma aos lábios sem querer...
Ó gloriosa manhã, como é doce viver!


Helena Kolody
In Viagem no Espelho

quinta-feira, 19 de julho de 2012

RAINER MARIA RIKE


VI


Uma rosa só são todas as rosas
e esta aqui: ágil vocábulo
o único, o perfeito
emoldurado pelo texto das coisas.


Como dizer sem ela
o que foram nossas esperanças
e em meio à constante errância
os momentos ternos e breves.


Rainer Maria Rilke
In: As Rosas

quarta-feira, 18 de julho de 2012

IN TENEBRIS



Eram-me as ilusões da mocidade,
Constelações de magna refulgência,
Que o céu da minha plácida existência
Vinham doirar de branda alacridade.

Apagou-as o tempo sem piedade,
Uma após outra, com brutal violência,
Deixando-me sem luz, sob a influência
Dos desenganos da senilidade.

Vejo agora, repleto de amargura,
Mudada em penas, a fugaz ventura
Desses momentos calmos e risonhos,

E para sempre extinta nas sombrias
E longas noites dos meus negros dias,
A via-láctea branca dos meus sonhos.


Pe. Antônio Tomaz

terça-feira, 17 de julho de 2012

SONETO



Eu queria chorar pelos que não choram.
Eu queria chorar pelos olhos secos,
Pelos olhos que são fontes
Onde as mágoas se purificam e se libertam.

Eu queria chorar pelos corações feridos
E que sangram obscura e silenciosamente.
Eu queria chorar pelas almas mártires
Que estão invisivelmente entre nós.

Eu queria chorar pelos indiferentes
E pelos que escondem num sorriso
As decepções de uma incompreendida bondade.

Eu queria chorar pelas almas fechadas,
Pelas almas que são como os desertos
E que não conhecem a libertação das lágrimas...


Augusto Frederico Schmidt

NOTURNO DO AMOR



Vem de manso...de leve...e suave e doce
Como um silêncio estático de prece...
Que a sua vida seja tal qual fosse
Apenas a saudade que me viesse...

Vem de manso...Na névoa da penumbra,
Faze um gesto litúrgico de benção!
A alta noite tristíssima deslumbra
Dos meus olhos nostálgicos, que pensam...

Sugere, mas não fales... Porque a frase
É vã, no amor...Mistério...Sonolência...
O esquecimento, quase...A morte, quase...
Intuições...Irrealismo...Inconsciência...


-Cecília Meireles-
In:"Mar absoluto" 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

HORA DO CANSAÇO


As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.


Carlos Drummond de Andrade

domingo, 15 de julho de 2012

FLOR DO ASFALTO



Flor do asfalto, encantada flor de seda,
sugestão de um crepúsculo de outono,
de uma folha que cai, tonta de sono,
riscando a solidão de uma alameda...

Trazes nos olhos a melancolia
das longas perspectivas paralelas,
das avenidas outonais, daquelas
ruas cheias de folhas amarelas
sob um silêncio de tapeçaria...

Em tua voz nervosa tumultua
essa voz de folhagens desbotadas,
quando choram ao longo das calçadas,
simétricas, iguais e abandonadas,
as árvores tristíssimas da rua!

Flor da cidade, em teu perfume existe
Qualquer coisa que lembra folhas mortas,
sombras de pôr de sol, árvores tortas,
pela rua calada em que recortas
tua silhueta extravagante e triste...

Flor de volúpia, flor de mocidade,
teu vulto, penetrante como um gume,
passa e, passando, como que resume
no olhar, na voz, no gesto e no perfume,
a vida singular desta cidade!

Guilherme de Almeida

sábado, 14 de julho de 2012

SALGUEIRO



Os ramos caídos
choram amores que foram
teus entes queridos

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

SOLITUDE



Silente, à tardinha,
desliza ao sabor da brisa
gaivota sozinha.

Delores Pires,
in O Livro dos Haicais

DELORES PIRES



Entre a paz do branco
o riso da margarida.
Ouro reluzindo.

Delores Pires
in Pétalas de Ipê

BEIJA-FLOR


Pousado na flor
balança suave a pétala
leve colibri.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

sexta-feira, 13 de julho de 2012

INTIMIDADE




No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa,
De querer e não crer, final, intimidade.



José Saramago
in "Os Poemas Possíveis" 

O SENTIDO SECRETO DA VIDA



Há um sentido profundo
Na superficialidade das coisas,
Uma ordem inalterável
No caos aparente dos mundos.

Vibra um trabalho silencioso e incessante
Dentro da imobilidade das plantas:
No crescer das raízes,
No desabrochar das flores,
No sazonar das frutas.

Há um aperfeiçoamento invisível
Dentro do silêncio de nosso Eu:
Nos sentimentos que florescem,
Nas idéias que voam,
Nas mágoas que sangram.

Uma folha morta
Não cai inutilmente.
A lágrima não rola em vão.
Uma invisível mão misericordiosa
Suaviza a queda da folha,
Enxuga o pranto da face.


Helena Kolody
in Correnteza

TRADUTOR DE CHUVAS


Um lenço branco
apaga o céu.

A fala da asa
vai traduzindo chuvas:
não há adeus
no idioma das aves.

O mundo voa
e apenas o poeta
faz companhia ao chão.


Mia Couto

NENHUMA ESTRELA CAIU



Janelas que me separam
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar

Vem a noite e o seu recado
Sua negra natureza
Talvez a lua não falte
Ou venha a chuva de estrelas
Basta que o sono desperte
O sonho que deixa vê-las

Abro as janelas por fim
E o frio vento se esquece
Nenhuma estrela caiu
Nem a lua me ajudou
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece.



José Saramago ,
in Provavelmente Alegria

CRISÂNTEMOS



Sombrios mensageiros das violetas,
De longas e revoltas cabeleiras;
Brancos, sois o casto olhar das virgens
Pálidas que ao luar, sonham nas eiras.

Vermelhos, gargalhadas triunfantes,
Lábios quentes de sonhos e desejos,
Carícias sensuais d´amor e gozo;
Crisântemos de sangue, vós sois beijos!

Os amarelos riem amarguras,
Os roxos dizem prantos e torturas,
Há-os também cor de fogo, sensuais…

Eu amo os crisântemos misteriosos
Por serem lindos, tristes e mimosos,
Por ser a flor de que tu gostas mais! 



Florbela Espanca,
in A mensageira das Violetas

quinta-feira, 12 de julho de 2012

A DESCOBERTA DA IMAGEM



É uma flor no lago
oculta em si mesma,
ou no fundo d’água?


-Mais do que uma flor,
rosto feito d’água
em momento de amor;


nesse rosto d’água
sinto a minha imagem,
nado e, após, naufrago.


Colombo de Sousa
In: Antologia Poética

CREPÚSCULO



-Estrelas não!
Pedaços de almas tristes
Que a noite acende pra enfeitar o céu.

Colombo de Sousa
In: Estágio

ANGÚSTIA

Formatação da amiga Regina Helena

quarta-feira, 11 de julho de 2012

INTRODUÇÃO DO SILÊNCIO



Em que lonjuras e frios
Fomos modelados
Para o nascimento do amanhã?

Em que limites escondidos
Fomos atirados?

Em que presença do terror
Fomos gerados
Para sentir no vento o odor do sangue?
Em que vácuo
Procuramos a paz que precisamos,
Em que imenso balcão
Fomos expostos,
Em que lodo fétido dos séculos
Foi atirada a grandeza do espírito?


Adalgisa Nery,
In: Erosão

terça-feira, 10 de julho de 2012

POUSAS A CABEÇA...



Pousas a cabeça num travesseiro que ficou na infância.
Pedes a alguém que acenda a noite.

O ofegar de um paraíso onde caem uma por uma as lendas...

Houve ontem? haverá amanhã? - eis renascem de teus pés
rotos sapatos, desencantada música, um ou outro arrepio
de mão insensata colhendo flores que não desabrocham nunca.


Alphonsus de Guimaraens Filho
In Água do Tempo

POEMA



A alma que nasce em nós quando nascemos
é a mesma que nasce em nós quando morremos?

E quando em nós tudo se esvai, se esquece,
quem sabe se um outro sol é que aparece?

Ah, o sol que nasce em nós quando nascemos
que a todo instante temos, e não vemos,
será a luz de Deus, quando morremos?

E só então nós nos revelaremos
nos círculos mais fundos onde ardemos?

E só então, no escuro, nos veremos?


Alphonsus de Guimaraens Filho
In O Tecelão do Assombro

MULHER AO CAIR DA TARDE



Ó Deus,
não me castigue se falo
minha vida foi tão bonita!
Somos humanos,
nossos verbos têm tempos,
não são como o Vosso,
eterno.

Adélia Prado
In Oráculo de Maio

sábado, 7 de julho de 2012

MARCEL PROUST

 


"A verdadeira viagem de descoberta não consiste
em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos."

Marcel Proust

sexta-feira, 6 de julho de 2012

QUANDO EU PARTIR...



Quando eu partir, quando eu partir de novo,
A alma e o corpo unidos,
Num último e derradeiro esforço de criação;
Quando eu partir...
Como se um outro ser nascesse
De uma crisálida prestes a morrer sobre um muro estéril,
E sem que o milagre lhe abrisse
As janelas da vida...
Então pertencer-me-ei.
Na minha solidão, as minhas lágrimas
Hão-de ter o gosto dos horizontes sonhados na adolescência,
E eu serei o senhor da minha própria liberdade.
Nada ficará no lugar que eu ocupei.
O último adeus virá daquelas mãos abertas
Que hão-de abençoar um mundo renegado
No silêncio de uma noite em que um navio
Me levar para sempre.
Mas ali
Hei-de habitar no coração de certos que me amaram;
Ali hei-de ser eu como eles próprios me sonharam;
Irremediavelmente...
Para sempre



Ruy Cinatti
In Nós Não Somos deste Mundo

TEMPESTADE



O tempo em contração
se desarruma.
Gemem árvores
e o vento faz sofrer
as flores novas.
Escurece.

O tempo em contração
se intranquiliza.
O gemido agudo
da trovoada
denuncia: é o parto
irreversível
da tempestade.

Edival Perrini,
in poemas do amor presente

quinta-feira, 5 de julho de 2012

PLENITUDE



A pedra, o vento, a luz alteada,
o salso mar eterno, o grito
do mergulhão, sob o infinito
azul:

— Deus não me deve nada.

Hélio Pellegrino

INGENUIDADE



Escrevi meus versos
numa curva do caminho
vazia ou plena
ela descrevia vozes
dançava entre regaços de risos
desenhava solidões
entre cantos
sussurrava distâncias
transmitia saudade
como pássaro que foge

que foge

que morre

Escrevi meus versos ...

- Por onde voam os meus pássaros?
Por que minhas noites
não anoitecem?


Alvina Nunes Tzovenos,
in Palavras ao Tempo 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

JOSÉ SARAMAGO



"Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores,
levantam-se os animais que correm os campos
ou voam por cima deles,
levantam-se os homens e as suas esperanças.
Também do chão pode levantar-se um livro,
como uma espiga de trigo ou uma flor brava.
Ou uma ave. Ou uma bandeira."

José Saramago


terça-feira, 3 de julho de 2012

POEMA



Das torres de sombra do crepúsculo
partem os pássaros.
São como setas céleres
que vão ferir a nua espádua
do dia em fuga, além.

Das torres de pedra da urbe oceânica
tombam as horas túmidas.
São como longas, lentas lágrimas
que vão morrer na poeira humílima
de um chão de além.

Das torres de mágoa da alma trêmula
não partem asas fúlgidas
nem tombam prantos recônditos.
Mas sobe o silêncio trágico
para um Além do além.


Tasso da Silveira,
in Poemas de Antes–

segunda-feira, 2 de julho de 2012

CEDO OU TARDE



Devias saber
que é sempre tarde
que se nasce, que é
sempre cedo
que se morre. E devias
saber também
que a nenhuma árvore
é lícito escolher
o ramo onde as aves
fazem ninho e as flores
procriam.

Albano Martins,
in Escrito a vermelho