Por cima de que jardim
duas pombinhas estão,
dizendo uma para outra:
"Amar, sim; querer-te, não"?
Por cima de que navios
duas gaivotas irão
gritando a ventos opostos:
"Sofrer, sim; queixar-me, não"?
em que lugar, em que mármores,
que aves tranquilas virão
dizer à noite vazia:
"Morrer, sim; esquecer, não"?
E aquela rosa de cinza
que foi nosso coração,
como estará longe, e livre
de toda e qualquer canção!
Cecília Meireles,
In: Retrato natural.
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