quinta-feira, 31 de maio de 2012

CHAMADO DA POESIA


Ouço a poesia que me chama.
São vozes que passam numa estrada
Agitando lembranças
Que não moravam na lembrança.

Ouço a poesia que me acena.
E vejo alguém, um vulto ao longe,
Dançando.Quem dançará para os meus olhos,
já fatigados e desertos?
Quem dança assim, na noite ardente?
Ó corpo em flor, que o vento em música mudado
Como uma rosa despetala.

Quem canta, assim, na noite rouca?
Quem canta, assim , o amor do mundo celebrando?

Ouço a poesia que me acena!

É efêmero, é o amor da terra,
É o barro, é o limo,
É a forma frágil e mentirosa.
É o seio em flor,
É o cheiro quente,
É a juventude fugitiva,
É o que a poesia transfigura,
É o amor do mundo,
É o grande engano
Que dança

Ouço a poesia que me chama
E me dá a noite,
A noite cálida e exaltada,
Envenenada pela música,
A noite cheia de desejos
Que, como um corpo, se oferece.


Augusto Frederico Schmidt
In ‘Um Século de Poesia’

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