quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ROTINA DE TODOS NÓS



Ser fragmento do transitório,
Analisar-se no mistério do demudado,
Saber perder o que jamais foi possuído
Mas desejado,
Esperar o que nunca foi criado,
Cravar-se em raízes já extintas,
Conduzir-se por idéias não nascidas,
Ver grandezas na própria fraqueza,
Proclamar o amor sobre o desamor,
Ser pureza ao lado da degradação
É existir no que não tem sentido,
É esquecer o que não foi pensado,
É caminhar sem deixar traços,
É ser pássaro sem asas
É tentar sair do chão para os espaços.

Adalgisa Nery
In Erosão (1973)


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