Água parada nos baixios:
Passa o rio veloz, alegre, quente
No desejo fraterno doutros rios,
E a tua força aí a olhar, dormente!
Sei que uma folha em ti é mais presente,
Mais romântica e morta doutros frios;
Sei que a lua penteia no teu pente
Os seus longos cabelos fugidios.
Mas apodrece em ti a vida!
A seiva, o ar, o sol, são a partida
De um levedar soturno e sem grandeza.
Água dormente, foste chuva alada!
Foste nascente e túnica orvalhada
Do corpo matinal da natureza!
Miguel Torga
In ‘Libertação’
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