sexta-feira, 6 de julho de 2012

QUANDO EU PARTIR...



Quando eu partir, quando eu partir de novo,
A alma e o corpo unidos,
Num último e derradeiro esforço de criação;
Quando eu partir...
Como se um outro ser nascesse
De uma crisálida prestes a morrer sobre um muro estéril,
E sem que o milagre lhe abrisse
As janelas da vida...
Então pertencer-me-ei.
Na minha solidão, as minhas lágrimas
Hão-de ter o gosto dos horizontes sonhados na adolescência,
E eu serei o senhor da minha própria liberdade.
Nada ficará no lugar que eu ocupei.
O último adeus virá daquelas mãos abertas
Que hão-de abençoar um mundo renegado
No silêncio de uma noite em que um navio
Me levar para sempre.
Mas ali
Hei-de habitar no coração de certos que me amaram;
Ali hei-de ser eu como eles próprios me sonharam;
Irremediavelmente...
Para sempre



Ruy Cinatti
In Nós Não Somos deste Mundo

Um comentário:

  1. Belíssimo poema!

    Particular destaque para esta parte:
    "Hei-de habitar no coração de certos que me amaram;Ali hei-de ser eu como eles próprios me sonharam"

    Beijos

    ResponderExcluir