sábado, 28 de setembro de 2013

TARDE NA PRAIA


A Leal de Souza 

Quando, à primeira vez, lhe vi a grandeza, 
Foi nos tempos da longe meninice. 
E quedei-me à mudez de quem sentisse 
A alma de pasmos e terrores presa. 

Depois, na mocidade, a olhá-lo, disse: 
É moço o mar na força e na beleza! 
Mas, ao dia apagado e à noite acesa, 
Hoje o sinto entre as brumas da velhice. 

Distanciado de escarpas e barrancos, 
Vejo a morrer-me aos pés, calmo, ao abrigo 
Das grandes fúrias e os hostis arrancos. 

E ao contemplá-lo assim, tristonho digo, 
Vendo-lhe, à espuma, os meus cabelos brancos: 
O velho mar envelheceu comigo! 


Emílio de Menezes,
in  Últimas rimas (1917). 

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