terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
PRIMAVERA NA SERRA
Claridade quente da manhã vaidosa.
O sol deve ter posto lente nova,
E areou todas as manchas,
Para esperdiçar luz.
Dez esquadrilhas de periquitos verdes
Receberam ordem de partida,
Deixando para as araras cor de fogo,
O pequizeiro morto.
E a árvore, esgalhada e seca, se faz verde,
Vermelhe e castanha, entre os mochoqueiros,
Braúnas, jatobás e imbaúbas do morro,
Na paisagem que um pinto daltônico
Pincelou no dorso de um camaleão.
E o lombo da serra é tão bonito e claro,
Que até uma coruja,
Tonta e míope na luz,
Com grandes óculos redondos,
Fica trepada no cupim, o dia inteiro,
Imóvel e encolhida, admirando as cores,
Fatigada, talvez, de tanta erudição...
João Guimarães Rosa,
In Magma
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