HÁ UMA água clara que cai sôbre pedras escuras
e que, só pelo som, deixa ver como é fria.
Há uma noite por onde passam grandes estrêlas puras.
Há um pensamento esperando que se forme uma alegria.
Há um gesto acorrentado e uma voz sem coragem,
e um amor que não sabe onde é que anda o seu dia.
E a água cai, refletindo estrêlas, céu, folhagem...
Cai para sempre!
E duas mãos nela mergulham com tristeza,
deixando um esplendor sôbre a sua passagem.
(Porque existe um esplendor e uma inútil beleza
nessas mãos que desenham dentro da água sua viagem
para fóra da natureza,
onde não chegará nunca esta água imprecisa,
que nasce e deslisa, que nasce e deslisa...)
Cecília Meireles
in 'Viagem'
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