“Treme a folha no galho mais alto” – escrevo.
Paro e sorvo, de olhos fechados, o cheiro bom
da terra, do capim chovido...
Parece que quer vir um poema...
Abro os olhos e fico olhando, interrogativamente,
a linha que escrevi no alto da página. Depois de
longo instante, acrescento-lhe três pontinhos.
Assim não ficará tão só enquanto aguarda as
companheiras.
O vento fareja-me a face como um cachorro.
Eu farejo o poema. Ah, todo o mundo sabe que a
poesia está em toda parte, mas agora cabe toda
ela na folha que treme.
Por que não caberia então em um único verso?
Um uni-verso.
Treme a folha no galho mais alto.
(O resto é paisagem...)
Mário Quintana,
in caderno H
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