O sábio no jardim sorria
do artifício da borboleta
convertida em folha amarela
até com manchas e defeitos.
O sábio sorria daquela
mentira. Ó colorido embuste!
Ó fingimento desenhado
por cegos presságios e sustos!
Para salvar seu breve tempo,
- tempo de inseto - dom dos vivos,
tinha a borboleta bordado
seu sigiloso mimetismo.
( atrás das máscaras, que morte
pode alcançar o oculto pólo
sensível, no pulsante abismo
onde a hora de existir se acolhe?)
Sendo e não sendo, perto e longe,
escondia-se, ignota e inquieta,
guardando, em paredes de medo,
a esperança da seiva eterna.
O sábio no jardim sorria
do cauteloso fingimento,
de tênue silêncio expectante
sobre os universais segredos.
Cecília Meireles -
In 'O Estudante Empírico'
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